Hécuba, não Hécuba
Na sua primeira colaboração com a Comédie-Française, Tiago Rodrigues apropria-se da história de Hécuba. E, como é habitual no seu teatro de interpelação direta do público, mistura as questões intemporais da mulher antiga, troiana, com as de uma mulher de hoje, atriz e mãe, envolvida em tormentos semelhantes. Tiago Rodrigues costuma dizer que não escreve peças para o teatro, mas sim para as atrizes e os atores que compõem a peça. Em Hécuba, não Hécuba, uma atriz ensaia Hécuba, de Eurípides. Faz o papel da viúva de Príamo. Aquela que, com a derrota de Troia, perdeu tudo: o marido, o trono, a liberdade e, para sua enorme tristeza, quase todos os filhos. É uma mulher que exige justiça.
Mas a tragédia ficcional flerta dolorosamente com a realidade íntima da atriz, cujo filho autista foi vítima de um sistema de abusos que ela denuncia e contra o qual se insurge. Ao tempo dos ensaios do espetáculo sobrepõe-se ambiguamente o tempo da investigação judicial. Num cenário único e crepuscular, ocorre uma fricção entre dois mundos, num entrelaçamento perturbado e perturbador entre a tragédia do mito e a da realidade, entre os meandros do teatro e os da justiça.
Ficha artística:
Texto e encenação: Tiago Rodrigues
Com intérpretes da Comédie-Française: Denis Podalydès, Élissa Alloula, Elsa Lepoivre, Éric Génovèse, Gaël Kamilindi, Loïc Corbery, Séphora Pondi
Tradução para francês: Thomas Resendes
Cenografia: Fernando Ribeiro
Figurinos: José António Tenente
Luz: Rui Monteiro
Música original e som: Pedro Costa
Colaboração artística: Sophie Bricaire
Produção: Comédie-Française
Coprodução: Festival d’Avignon
Próximas datas:
30 de junho – 16 de julho de 2024: Festival d’Avignon, Avignon (França)
Mais informações:
Carole Benhamou – Comédie Française
carole.benhamou@comedie-francaise.org
Fotografia: © Jean Louis Fernandez, coll. Comédie-Française